Educação e inteligência protegem a cognição, mas não previnem Alzheimer

Redação do Diário da Saúde –

Em busca de pistas para o que pode retardar ou prevenir a doença de Alzheimer, cientistas da Universidade Johns Hopkins (EUA) constataram que pessoas mais inteligentes ou com nível de instrução mais elevado não têm uma “proteção contra a doença”, embora consigam uma “vantagem inicial” cognitiva que pode manter suas mentes funcionando melhor temporariamente.

Dito de outra forma, os pacientes que começam com maior reserva cognitiva – uma linha de base de funcionamento mental superior – podem ter mais recursos para perder antes que os sintomas da doença de Alzheimer interfiram em suas vidas diárias, em comparação com aqueles que não têm tanta escolaridade e nem participam regularmente em tarefas mentalmente desafiadoras.

Estes resultados, publicados no Journal of Alzheimer’s Disease, contestam uma visão que se tornou hegemônica entre os cientistas e médicos da área, sugerindo – mas não provando – que exercitar o cérebro pode ajudar a manter as pessoas cognitivamente funcionais por mais tempo, mas não irá afastar o declínio inevitável da doença de Alzheimer.

“Nosso estudo foi projetado para procurar tendências, não provar causa e efeito, mas a principal implicação de nosso estudo é que a exposição à educação e melhor desempenho cognitivo quando você é mais jovem pode ajudar a preservar a função cognitiva por um tempo, mesmo que seja improvável que mude o curso da doença,” reafirmou a Dra Rebecca Gottesman, líder do grupo.

 

…exercitar o cérebro pode ajudar a manter as pessoas cognitivamente funcionais por mais tempo, mas não irá afastar o declínio inevitável da doença de Alzheimer .

Hipótese amiloide

Os pesquisadores relatam que os escores de cognição na meia-idade não se mostraram associados a níveis mais elevados de proteína beta-amiloide no cérebro no final da vida. Os participantes brancos com maiores escores de cognição no final da vida apresentaram um risco 40% menor de ter proteína beta-amiloide elevada no cérebro. Essa tendência geral também foi observada nos participantes afro-americanos, mas em menor grau (um risco cerca de 30% menor).

“Nossos dados sugerem que mais educação parece desempenhar um papel como uma forma de reserva cognitiva que ajuda as pessoas a se saírem melhor no início, mas não afeta o nível real de declínio,” disse Gottesman. “Isso torna os estudos complicados porque alguém com boa educação pode ter menos probabilidade de demonstrar o benefício de um tratamento experimental porque já está se saindo bem.”

Ela acrescenta que isso é importante para pesquisas futuras no desenvolvimento de terapias para a doença de Alzheimer, dirigindo o foco para algum tipo de biomarcador independente e específico que mostre o benefício real do tratamento, uma vez que as mudanças cognitivas em si sofrem variação de pessoa para pessoa. Ela também diz que os estudos devem observar as tendências de desempenho ao longo do tempo, e não em um único momento.